História

A emigração trentina

História da Imigração

Por Everton Altmayer[1]
(Diretor de Cultura do Circolo Trentino di São Paulo)

A grande causa da emigração foi a crise no setor agrário, pois a economia tirolesa havia perdido mercado com o boicote italiano ao vinho do Vale do Rio Ádige (era uma resposta à Áustria quando esta perdeu os territórios de Milão e Veneza). Além disso, o serviço militar obrigatório que o governo austríaco impunha aos jovens fez com que muitos ficassem durante longos períodos de tempo fora de casa; isso atrapalhava a economia familiar e várias famílias empobreceram. A Igreja apoiava a imigração, pois em muitos locais, pela falta de homens (que estavam no exército), as mulheres eram obrigadas a cuidar da economia da família e isso era encarado como algo indecente ou abusivo.

No final do século XIX, milhares de tiroleses (principalmente trentinos) emigraram de suas terras em busca de melhores condições de vida (GROSSELLI, 2002). Eram em sua maioria camponeses e quase todos escolheram a América como destino; milhares seguiram para os Estados Unidos, Brasil, América e Austrália. Houve também emigrações para outros países europeus, como França e Alemanha, assim como para demais regiões do Império Austro-húngaro, como Vorarlberg (atual Áustria), Böhmen (Boêmia – atual República Tcheca) e Krain (atual Bósnia-Herzegovina).

No Brasil, estima-se que o número de emigrantes seja próximo a trinta mil. Uma grande parte dos imigrantes trentinos seguiu para as lavouras de café de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Houve também uma pequena imigração na Bahia (Salvador), mas a grande maioria seguiu para o Sul, sobretudo para Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Passaporte austríaco de imigrante da região de Trento.

Os nomes de algumas localidades coloniais no Brasil demonstram e comprovam a ligação histórica que uniu os dois grupos étnicos do Tirol, ou seja, os tiroleses de língua alemã e os de língua italiana (trentinos). Com o nome Tirol ou Tyrol existem várias localidades brasileiras: em 1859 foi fundada a colônia Tirol no Espírito Santo por tiroleses de língua alemã; na cidade catarinense de Nova Trento (fundada por trentinos), a localidade outrora denominada Ronzenari hoje se chama Tirol; na cidade catarinense de Rio dos Cedros, uma estrada colonial que a liga à cidade de Timbó é chamada Estrada dos Tiroleses; no Paraná, próxima a Curitiba, está a localidade Santa Maria do Novo Tyrol, fundada por trentinos.

Curiosidade: “Hoje, após 130 anos da emigração trentino-tirolesa para o Brasil, estima-se que o número de descendentes trentinos alcance os 3 milhões de pessoas, o que corresponde a 10% da população de descendentes de italianos do Brasil”.

[1] Everton Altmayer é Bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador de dialetologia trentina, italiana e alemã, com Mestrado em Letras (USP/FAPESP). Também cursou Filosofia na Faculdade São Bento de São Paulo. Possui diversos estudos sobre a cultura e dialeto trentinos e sobre as variedades dialetais do italiano no Brasil, com apresentação de artigos e seminários em congressos acadêmicos, com destaque para o 27º Congresso Internacional de Linguística e Filologia Românicas (CILPR) realizado em 2007, na cidade de Innsbruck – Áustria. Desenvolve desde 2006 um projeto de resgate dialetal na comunidade trentina de Piracicaba, com organização de documentários informativos e de um dicionário. É membro desde 1999 do Grupo Folclórico Tirol da cidade de São Paulo, tendo desenvolvido atividades culturais e de resgate folclórico em comunidades tirolesas e trentinas do Brasil, Paraguai e Argentina. Desde 2002 é membro do Circolo Trentino di São Paulo e desde 2006 é Diretor de Cultura da entidade.

MAIS HISTÓRIAS